Juscelina Guirengane
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Juscelina Guirengane: Jovem Empreendedora Quer Fazer Parte da Solução

Para a nossa rubrica de empreendedor da semana, hoje falamos com Juscelina Guirengane, fundadora e directora geral da Sahane Consultoria…

Juscelina GuirenganePara a nossa rubrica de empreendedor da semana, hoje falamos com Juscelina Guirengane, fundadora e directora geral da Sahane Consultoria e Serviços e Directora da ANJE (Associação Moçambicana de Jovens Empreendedores). Ela é uma jovem empreendedora, sonhadora, e dinâmica, e em 2015 fez parte do Mandela Washington Fellowship, projecto do Governo Americano.

Nesta entrevista ela partliha connosco sobre quem ela é, o que lhe motivou a abraçar o empreendedorismo, a empresa que fundou, e muito mais.

  1. Quem é e o que faz? (Fale do seu background)

Meu nome é Juscelina Guirengane, sou uma jovem mulher moçambicana formada na área de gestão de negócios com especialização em finanças e gestão tecnológica. Tive uma oferta de emprego no programa de graduados da multi-nacional IBM, na África do Sul, mas “felizmente”, quis o destino que eu não ficasse a trabalhar lá. Fiquei 1 ano desempregada, durante o qual fui voluntária internacional do programa Canada World Youth, neste tempo vivi em Nampula (Moçambique) e Duncan (Canada). Em 2015 participei do programa Mandela Washington Fellowship do Governo Americano. Sou fundadora e Directora Executiva da Sahane Consultoria & Serviços Lda., fui docente nas Universidades Técnica de Moçambique e São Tomás de Moçambique (Business School) e sou actualmente uma das Vice-Presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários.

  1. O que lhe motivou a seguir a carreira de empreendedorismo?

Eu sou uma sonhadora e tenho dificuldades de cumprir regras convencionais, questiono muito a tudo e a todos. Mas também sinto que adquiri muito conhecimento e até mesmo experiência através da universidade, trabalhos temporários, viagens, livros, blogs e vídeos online que me abriram cada vez mais a mente para compreender que existe ainda tanta coisa por se criar, particularmente em Moçambique. Precisamos ainda de tantos serviços e produtos e apesar de ser natural comentar e criticar, eu queria fazer parte da solução e o meu desafio era preparar o máximo nº de pessoas que eu pudesse para que também fossem capazes de propor soluções variadas ao mercado.

Eu sou uma sonhadora e tenho dificuldades de cumprir regras convencionais, questiono muito a tudo e a todos.

  1. Fale-nos da sua empresa. Como é que se chama? Em que área é que opera? E o que faz?

A minha empresa denomina-se Sahane Consultoria & Serviços é uma empresa cuja vocação é capacitar o cidadão local para que se transforme num profissional capaz de desempenhar as suas funções de forma globalmente competitiva.

Prestamos serviços especificamente de desenvolvimento pessoal e profissional nas áreas de empreendedorismo, gestão de RH, Marketing e Tecnologia, quer seja através da consultoria ou formação adequada as necessidades específicas dos nossos clientes. Desde a sua criação já trabalhamos com clientes como Cimentos de Moçambique, o antigo Ministério da Planificação e Desenvolvimento, Direcção Provincial da Indústria e Comércio, Ogilvy Moçambique, dentre outras quer na reestruturação de departamentos de Recursos Humanos, quer na área de formação. Penso que já devemos ter formado mais de 1500 pessoas singulares e quadros de grandes e pequenas empresas.

  1. Porque é que escolheu essa área para o seu negócio?

Ensinar é a minha maior paixão, tenho boas habilidades de comunicação interpessoal, bons conhecimentos na área de gestão, tecnologias e empreendedorismo e decidi abraçar o desafio e responsabilidade de ensinar outras pessoas. Consegui criar uma rede de contactos em Moçambique e fora do país que me permitiu criar uma equipe de profissionais que me pudessem complementar e oferecer serviços de qualidade com garantia. Identifiquei uma oportunidade concreta no mercado, sendo que apesar de existirem vários centros de formação técnica e cada vez mais universidades os quadros locais continuam com deficits de alinhamento as exigências do mercado e o país importa cada vez mais quadros estrangeiros para desempenhar até algumas funções básicas. Nos dias de hoje, o mercado não exige somente boas habilidades técnicas, mas sobretudo, a lapidação do talento natural, a capacidade interpessoal e de resposta rápida as necessidades reais da sociedade.

  1. Como é que consegue angariar novos clientes?

Nossa maior estratégia é a referência e a publicidade “boca-a-boca”. É mais barato e aprendi que as pessoas fazem negócio com quem conhecem e com quem gostam, e por isso tornamo-nos conhecidos e procuramos fazer com que mais pessoas gostem de nós “profissionalmente”; mas para além disso usamos ferramentas de marketing digital e outras formas de publicidade activa como branding activo.

  1. Quais são os desafios do empreendedor em Moçambique?

Existem mais políticas de incentivo as Micro, Pequenas e Médias Empresas como estrutura do que ao empreendedor como pessoa, e infelizmente, muitas destas politicas são mais apetecíveis as empresas estrangeiras com experiência do que ao cidadão local que pretende tomar o risco empreendedor. O custo do financiamento é elevado, não temos muitas alternativas a banca comercial (os bancos de microcrédito ou parecem agiotas ou não se diferem muito da banca comercial) e sendo honesta o empreendedor moçambicano, sobretudo quem quer inovar serviços, produtos ou processos não tem capacidade de listar seja lá o que for na Bolsa de Valores, pelo ao menos não agora. Depois o poder de compra dos moçambicanos ainda é baixo e temos um mercado com uma competição desleal visto que por não haver uma forte cultura empreendedora, todos só pensam em prestar serviços ao estado. Por fim, o acesso a infraestruturas logísticas, internet para podermos buscar informação e soluções inovadoras; o apoio sistematizado aos empreendedores continua não somente a ser caro mas também de difícil acesso.

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  1. Será que vale a pena ser empreendedor no nosso país?

Sem dúvida. Aqui é o melhor lugar do mundo para empreender porque ainda falta quase tudo, o mercado testa constantemente a capacidade de resposta rápida dos empreendedores e te sentes mais útil a sociedade. Isso não significa que seja o lugar mais fácil do mundo para empreender.

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  1. Quais são os maiores desafios que a sua empresa enfrenta no seu dia a dia?

Liquidez e Sustentabilidade. É quase impossível ganhar concursos públicos e a capacidade de resposta fora do Estado é muito lenta, clientes singulares não tem capacidade financeira para pagar de forma sustentável para serviços sofisticados e as grandes empresas continuam sendo muito burocráticas. Estamos cientes dos desafios e estamos a buscar formas inovadoras de responder a estes desafios.

[bctt tweet=”É quase impossível ganhar concursos públicos e a capacidade de resposta fora do Estado é muito lenta.” username=”edgarchauque”]

  1. Qual é a chave do sucesso?

“Ser autêntico e manifestar isso”

Algumas pessoas dizem que o segredo é a alma do sucesso e os empreendedores acabam pensando que é melhor empreender em segredo, ninguém os vê, ninguém os ouve, ninguém os apoia.

  1. Quais são os planos da sua empresa para o futuro?

Buscar sustentabilidade e solidez, expandir por todo país e apoiar a mais profissionais locais a serem capazes de responder as demandas do mercado de forma competitiva e sustentável, de outra forma, transformar a todos os cidadãos moçambicanos em profissionais empreendedores.

  1. Que conselho tem para os jovens?

Não peçam dinheiro para começar vossos negócios, vendam vossos sonhos, vossas ideias e vossos projectos sempre e a todos e se alguém se interessar o suficiente para perguntar quanto custa esse sonho, não seja pego de surpresa, tenham os cálculos bem feitos e coloque um preço justo para sí e para esse potencial cliente ou investidor.

  1. Fale-nos da ANJE (O que é? Como aderir? Benefícios para os jovens empreendedores)

A ANJE é a Associação Nacional de Jovens Empresários, uma organização sem fins lucrativos, apartidária, com independência jurídico-financeira, que busca melhorar o ecossistema empreendedor em Moçambique com o objectivo de promover uma economia inclusiva, sustentável e competitiva. As nossas acções são orientadas em 2 vertentes sendo a 1ª representação institucional dos jovens empresários junto do Governo e Orgãos decisores através do lobby e advocacia para um melhor ecossistema empreendedor e a 2ª capacitação dos jovens para que se transformem em empreendedores competitivos e sustentáveis.

No âmbito das nossas acções de lobby e advocacia realizamos nos últimos 3 anos 3 conferências nacionais de empreendedorismo e uma séria de debates sobre as responsabilidades dos diferentes stakeholders, os desafios e oportunidades para os empreendedores em Moçambique. Como resultado deste ciclo de conferências e debates desenhamos uma proposta de politica nacional de empreendedorismo orientada por 4 pilares essenciais, que na óptica da associação devem não só obedecer uma estrutura cascata de implementação mas também diferenciam-se de muitas outras pois estão centradas na pessoa “o empreendedor”: 1) Politicas de incentivo ao empreendedor; 2)Mecanismos inclusivos de financiamento; 3) Promoção da cultura e educação empreendedora; 4) Apoio à competitividade – acreditamos que este apoio tem vindo muito cedo e de forma pouco efectiva, por isso o impacto real na vida do empreendedor tem sido quase inexistente.

Em termos de projectos realizados, alguns exemplos concretos são a linha de financiamento exclusiva para jovens empreendedores, lançada em 2014 em parceria com o BCI, dois programas de capacitação para jovens empreendedores, o “O Poder da Mulher” e “Oficinas de Sucesso”. “O Poder da Mulher” são sessões que focam no empoderamento da jovem mulher comum para que ela não apenas possa aprender como criar e gerir um negócio competitivo mas também tornar-se uma jovem líder, capaz de fazer escolhas assertivas e participar activamente na sociedade.

Mais informações sobre vantagens e como aderir pelo email anje@anje.org.mz, facebook: anje ou nr 843366993.

  1. Últimas Palavras

Gostaria de aconselhar ao jovem moçambicano, para independentemente da sua área profissional olhar para o Associativismo como uma poderosa fonte de formação e orientação, um lugar onde crescemos quanto mais damos. Eu sou um produto da ANJE, e honestamente, dou muito de mim mas também ganhei muito ao me juntar a ANJE, conhecimento, contactos, viagens, amigos e até mesmo dinheiro.

Os meus agradecimentos vão para a Juscelina por ter acedido a esta entrevista.

Espero que ela lhe tenha servido de inspiração para poder empreender e sonhar.

Deixe o seu comentário falando do que achou da entrevista e o que você aprendeu.

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