Ser empreendedor não pode ser encarrado como oposição a ter emprego, diz Járcia Moreira
Nesta edição de histórias de sucesso conversamos com a Járcia Moreira (Tininha Muando). A Járcia é uma jovem empreendedora, natural da Beira, conhecida pela promoção do empreendedorismo juvenil na cidade Lichinga, onde exerceu actividade profissional nos últimos 6 anos.
Nesta entrevista ela partilha connosco o seu percurso no empreendedorismo, a sua motivação para empreender, e sobre alguns desafios do empreendedorismo em Moçambique.
Leia a entrevista para saber mais e seja inspirado pela sua história.
#1 Quem é a Tininha Muando e o que faz?
Járcia Muando Moreira é uma jovem escritora e empreendedora, formada em Sociologia pela Universidade Eduardo Mondlane. A sua trajectória profissional inclui gestão operacional de serviço de correio e actuação na área de comunicação e marketing.
Desde a infância escreve poemas, contos e romances, teve alguns textos publicados no Jornal Diário de Moçambique. É autora do livro “Alegria”, um conto infantil publicado em Fevereiro de 2017, sob pseudónimo Tininha Muando.
Como empreendedora, desenvolve projectos digitais e dedica-se a produção de artesanato, especialmente para o público infantil.
É uma das jovens promotoras do empreendedorismo juvenil, fundadora do projecto Elostartup, tendo realizado palestras na cidade de Lichinga e sessões de mentoria online. Recentemente juntou-se a nova Direcção da Associação Nacional de Jovens Empresários, ocupando a posição de Oficial de Comunicação.
#2 O que lhe motivou a seguir a carreira de empreendedorismo?
A veia empreendedora está em mim desde a infância. Sempre interessada por aprender coisas novas, criar projectos e ajudar o próximo. Cheguei a explorar diversas áreas, com destaque para artes, locução, informática, e voluntariado.
Em diferentes fases da minha vida, a vontade de empreender também tinha ritmos diferentes. Por isso, na fase inicial da carreira, encontrava dificuldade em responder a essa pergunta. Eu sabia que queria ter realização profissional e ajudar as pessoas, mas queria ter o controle sobre ponto de equilíbrio entre os dois objectivos.
E através do empreendedorismo, sinto-me mais confortável em desenvolver meu potencial profissional e busco contribuir positivamente na vida das pessoas.
#3 O que é ser um empreendedor para si?
A imagem que tenho de um empreendedor é um profissional perfeito ao serviço do país. Na minha opinião, o empreendedor tem uma visão analítica do meio em que vive, busca soluções rentáveis a longo prazo e é coerente na execução do plano de transformação de ideias em negócio.
Temos acesso a diversos livros sobre empreendedorismo, carecterística do perfil empreendedor, startups, entre outros termos do ramo, mas parece-me que há dificuldade na transmissão ou assimilação do significado em Moçambique.
Por isso acho importante para os jovens, reflectirem essa questão antes de tomar a decisão de iniciar a carreira empreendedora.
#4 Fale-nos da sua empresa. Como é que se chama? Em que área é que opera? E o que faz?
Em 2015 o empreendedorismo feminino teve muito destaque. No meu caso, tive muita influência de jovens empreendedoras, como a Sazia Souza e Daisy Gonçalves, antigas colegas da Escola Secundária Samora Moíses Machel na Beira.
Naquela altura queria ficar actualizada sobre o estágio do empreendedorismo em Moçambique, juntei-me a ANJE e nos dois anos que se seguiram dediquei-me a formação, networking e desenvolvimento do modelo de negócios.
A empresa chama-se Nahalu Fábrica de Sonhos e as principais áreas actuação são: educação infantil e tecnologia.
Actualmente estamos na fase de teste dos produtos e serviços, actividades e produtos educativos para crianças são apresentadas em feiras; a plataforma digital olanana.com – galeria online de arte infantil está disponível para avaliação do público e estamos em constante melhoria para lançamento.
#5 Como é que consegue angariar novos clientes?
A principal estrategia de marketing para angariação de clientes são participação em eventos de negócios e divulgação nas redes sociais.
#6 Como encara a concorrência?
O mercado de produtos e serviços para o público infantil é complexo. Por um lado temos poucos consumidores com capacidade compra e a concorrência é forte. Por outro lado temos consumidores com fraca capacidade de compra, mas os meios de produção são disponíveis tornam o produto final caro.
Mas o desejo de criar oportunidade para que a maioria das crianças moçambicanas tenha possibilidade de explorar o potencial artístico e do impacto social da iniciativa, move-nos a criar soluções inovadoras para materializar a nossa visão com os recursos disponíveis.
Hoje, a plataforma Olá Nana teve uma aceitação positiva do público e temos parceiros interessados em contribuir para organização das oficinas de pintura e artesanato, esperamos sensibilizar mais instituições e famílias a fazer parte da comunidade.
Cabe ao empreendedor ter certeza do caminho que quer seguir e estar preparado para os desafios nessa caminhada.
#7 Quais são os desafios do empreendedor em Moçambique?
Ser empreendedor não pode ser encarrado como oposição a ter emprego. Em qualquer uma das escolhas corre-se riscos e luta-se diariamente para gerar rendimento.
Cabe ao empreendedor ter certeza do caminho que quer seguir e estar preparado para os desafios nessa caminhada.
Para Moçambique, a falta de informação, a desinformação e falta de apoio técnico dificultam o surgimento, crescimento e expansão de novos negócios.
É importante pensar no empreendedorismo como um ecossistema, onde existem diferentes agentes, como empreendedores, governo, fornecedores, clientes, capital humano, entre outros. E todos tem papel crucial no fortalecimento do ecossistema.
O empreendedor precisa comunicar não apenas a ideia, mas também do valor acrescenta e o que pretende receber de cada interveniente do ecossistema.
#8 Será que vale a pena ser empreendedor no nosso país?
O empreendedorismo em Moçambique é uma cultura recente, por isso vale a pena fazer parte de mais uma geração de empreendedores.
Estamos preocupados em proporcionar um bom futuro para os nossos filhos e é certo que através do empreendedorismo, nem todos teremos possibilidade de alcançar esse objectivo. Mas se a jornada for coerente, o caminho será mais fácil para os outros.
#9 Quais são os maiores desafios que a sua empresa enfrenta no seu dia a dia?
O capital humano é peça chave para o empreendedor no início do negócio. E o dilema que surge nessa fase inicial é pessoal de qualidade ou quantidade de prejuízo.
Procuro aumentar a probabilidade de sucesso envolvendo-me no máximo em todo processo e apostar na capacitação do pessoal.
#10 Quais são os planos da sua empresa para o futuro?
O meu negócio tem a particularidade de que não sou empreendedora a tempo inteiro e cada fase tem levado mais tempo do que o previsto.
A médio prazo espero tornar a marca conhecida a nível nacional, pois a criação da plataforma digital foi com objectivo de alcançar crianças de todo país.
O livro “Alegria” é a minha estreia como autora de livros infantis e pretendo manter a colaboração das crianças nas ilustrações, bem como na massificação da cultura de leitura na infância.
A minha visão é construir famílias com mais livros do que sapatos.
#11 Qual é a chave do sucesso?
Para o caso do empreendedores, penso que a chave do sucesso é o autoconhecimento. Não precisamos ter habilidades especiais ou ideias extraórdinarios, o importante é conhecer o seus limites e fazer um pequeno exercício:
Se preciso de ideia, vou falar com família, amigos ou profissional ?
Se preciso motivação, vou falar com família, amigos ou profissional ?
Se preciso de dinheiro, vou falar com família, amigos ou profissional ?
Quanto mais fizer essas perguntas, encontrará a força necessária para alcançar o sucesso.
[bctt tweet=” Comece a mudança na sua família.” username=”edgarchauque”]
#12 Que conselho tem para os jovens?
Um dos maiores erros que jovens sonhadores e empreendedores cometem é tentar mudar o mundo. O mundo é enorme. Comece a mudança na sua família.
Não tenha vergonha de perguntar quando estiver perdido, parar quando estiver cansado e muito menos de regressar quando sentir que está no caminho errado.
Lembre-se que se fracassar, alguns vão rir por ser o tio pobre da família que tentou ser empreendedor na juventude e o mais importante serão aqueles que vão se espelhar em si tentar novamente mudar o destino da família.
#13 Últimas Palavras.
É um prazer participar deste espaço. Obrigada pela oportunidade.
Para quem quiser seguir o meu trabalho, estou no twitter @jarciamuando e site www.jmuando.elostartup.co.mz